Unité de portugais

O poder da imagem na obra de Lídia Jorge

 Chamada de comunicações:

15 e 16 de setembro de 2021

Colóquio internacional

O poder da imagem na obra de Lídia Jorge

 

A Cátedra Lídia Jorge presta homenagem a uma das personalidades literárias mais importantes da atual literatura portuguesa, reconhecida internacionalmente com diferentes galardões e praticando diferentes géneros literários, entre os quais se destaca sobretudo o romance. Foi criada a 16.12.2020, por protocolo entre o Instituto Camões e a Faculdade de Letras da Universidade de Genebra e dá seguimento ao trabalho de promoção e divulgação da língua portuguesa e das culturas de expressão portuguesa do Centre d’Etudes Lusophones, criado a 25 de abril de 2009. Devido à situação pandémica que vivemos desde 2020, não foi possível até agora organizar este colóquio com que se pretende marcar a abertura oficial da cátedra. Esperamos que em setembro o colóquio já possa decorrer presencialmente e contamos ter entre nós a escritora homenageada.

O poder da imagem na obra de Lídia Jorge

Dedicar um colóquio ao poder da imagem na obra de uma autora, que declara que as suas obras surgem através de uma imagem que a persegue até que a personagem surge e constrói a história em torno dela, parece uma evidência. Por outro lado, é também a mesma autora que afirma que “a história é apenas o pretexto para outra coisa e essa outra coisa é que importa”. Essa outra coisa é a arte e a beleza. Percorre a obra de Lídia Jorge uma grande sensibilidade ética, uma visão profética face ao devir e uma qualidade estética e plástica constante. Isso não retira à sua obra uma dimensão performativa consciente, de influência no mundo real, pois afirma que a literatura pode transfigurar o mundo através da busca da palavra e da beleza. Todavia, se os grandes temas da sua obra já foram bem estudados, como a relação com a história, a memória, o papel da mulher na sociedade, o labor da escrita não tem sido objeto de uma investigação sistemática. Tentaremos com este colóquio contribuir para iluminar um pouco mais esse terreno a desbravar, centrando-nos na imagem.

A representação mental de uma realidade sensível e simultaneamente a sua representação linguística ou pictural são as duas facetas do conceito de imagem de que partimos. Associada à tradição da imagem literária está a retórica, que estuda as figuras do discurso como a metáfora, a comparação, a personificação e a alegoria, entre outras, que dizendo uma coisa remetem para imagens mentais e suscitam ou sugerem outras, forma de sublinhar o poder das palavras para visualizar, rememorar ou imaginar. A partir do fim do século XIX, com o avanço do cinema e da fotografia o termo imagem tende a substituir as designações da retórica, do mesmo modo que a imagem poética tende a eliminar as explicitações sintáticas que estabelecem as relações de similitude em que se baseiam. A imagem poética moderna cria uma associação imediata, como um choque percetível, entre duas realidades distintas. Atualmente o conceito de imagem está associado sobretudo à visualidade, com imagens gráficas ou óticas mediatizadas a sobreporem-se às imagens que a realidade circundante oferece diretamente. Quais as imagens poéticas mais marcantes na obra de Lídia Jorge e como são trabalhadas no discurso?

“As imagens não são apenas um tipo particular de signo, mas algo como um ator no palco histórico, uma presença ou personagem dotado de um estatuto lendário, uma história que se assemelha e participa nas histórias que contamos a nós próprios sobre a nossa própria evolução de criaturas ‘feitas à imagem’ de criador para criaturas que se fazem a si próprias e ao seu mundo à sua própria imagem”[1], diz-nos W. J. T. Mitchell. As imagens participam assim do referente externo de que parte o escritor e para que remete a obra e constroem uma realidade social que participa na identidade coletiva, quer corresponda à realidade ou não. Podemos, pois, interrogar-nos se culturas diferentes produzem imagens diferentes e qual é a receção de uma mesma imagem de uma cultura para outra. Podemos ainda questionar até que ponto a realidade social criada pelas imagens poéticas corresponde à realidade social “real”. Seria interessante estudar a diferente receção da obra da autora pelos diferentes públicos de língua portuguesa, das culturas de línguas latinas e do mundo anglo-saxónico, sob essa perspetiva.

Por outro lado, a globalização cultural fez com que as imagens que circulam diariamente com origem nos mais diversos pontos do planeta construam uma imagem de um mundo paralelo à daquele em que se situa geograficamente o recetor da obra. De que forma essas imagens entram em concorrência com as do real circundante mais próximo, de que forma influenciam a criação de imagens mentais e de discursos artísticos e a leitura das imagens produzidas fora da esfera desse outro mundo imagético? Essas imagens utilizadas literariamente ganham outro sentido? De que modo a obra de Lídia Jorge analisa essa realidade contemporânea?

As questões levantadas não esgotam as possibilidades, mas apontam alguns dos caminhos possíveis para explorar a construção e funcionamento da imagem poética na obra de Lídia Jorge.

 

Eixos de análise:

  • A imagem poética na construção narrativa e argumentativa dos textos.
  • As figuras de estilo, tais como metáforas, comparações, alegorias, símbolos.
  • A influência dos media visuais, tais como o cinema, a televisão ou a publicidade.
  • Aspetos antropológicos e sociológicos da imagem:
  • visão cultural e política do mundo
  • representação de uma realidade social;
  • aspeto performativo do texto;
  • receção/compreensão segundo as diferentes culturas

 


[1] Mitchell, W. (1984). What Is an Image? New Literary History, 15(3), 503-537. doi:10.2307/468718, p. 504.

 

 

8 avr. 2021

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