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in Pátio, 2003, n° 25, pp. 19-24.

 

 

 

 

 

As competências a serviço da solidariedade

 

Philippe Perrenoud

Faculté de psychologie et des sciences de l'éducation
Université de Genève
2003

Sommaire

Fundamentar a solidariedade como valor e princípio ético

Compreender a solidariedade como base do contrato social

Aprender a lutar para ampliar a solidariedade

A educação para a solidariedade: uma utopia?

Referências Bibliográficas  


O tema da solidariedade pertence a todo mundo, não é uma questão de especialistas, é uma questão de todos. Contudo, não é inútil propor uma abordagem conceitual. O papel dos pesquisadores é ajudar a verbalizar a complexidade do mundo. Isto não a faz desaparecer, mas ajuda a conviver com ela.

Ninguém pode ser solidário sozinho. A solidariedade é um fato social. Por isso, falarei dela como sociólogo. Naturalmente, assim como a todas as pessoas de boa vontade, a solidariedade parece-me mais simpática, mais humana, mais positiva que seu contrário. Porém, se todos estivéssemos de acordo sobre esse ponto, todos seriam solidários com todos, e não haveria nem guerra, nem miséria, nem desigualdades, nem dominações, nem segregações, nem violências, nem exclusões. Assim, ninguém teria necessidade de se questionar a esse respeito.

Se falamos dela, é porque a solidariedade não é natural, é porque ela é sociologicamente improvável. A realidade resiste a nosso pensamento positivo, a nossos sonhos. E a realidade aqui não são as forças naturais, mas os seres humanos…

Procurarei, portanto, tornar inteligível aquilo que a torna ao mesmo tempo possível e improvável. Não para desencorajar quem quer que seja. A lucidez sobre o que coloca obstáculo aos nossos sonhos é nossa única chance de realizá-los. Quando se quer combater os processos que impedem ou desfazem as solidariedades, é preciso primeiro compreendê-los. Abordarei a solidariedade como sociólogo da educação, atento aos desafios da formação.

***

A solidariedade é uma questão de educação? E, se for, é uma questão de competências? O que é a solidariedade? Antes de mais nada, um valor, um valor que se atribui aos outros e à comunidade que nos reúne. Em seguida, práticas que traduzem esse valor em atos concretos: partilhar, ajudar, acompanhar, apoiar, aceitar, integrar, proteger, cuidar, preocupar-se, etc.

Nem essas práticas, nem os valores que a elas subjazem surgem naturalmente no desenvolvimento do ser humano. A solidariedade não é espontânea, é uma conquista contra o egocentrismo e o egoísmo que caracterizam a criança pequena, como também contra o etnocentrismo de todo grupo humano e a prioridade que dá a seus próprios interesses. A solidariedade é uma construção social e cultural, uma conquista frágil da civilização.

Para que ela se desenvolva em uma sociedade, pelo menos três condições devem ser permanentemente satisfeitas:

1. O princípio de solidariedade deve fazer parte das idéias e dos valores centrais da maior parte dos indivíduos. Cada um deveria saber não apenas do que se trata, mas acreditar firmemente nele, incorporar a ele uma parte de sua identidade e de sua auto-estima, sentir que, quando se mostra solidário, está de acordo com a cultura do grupo a que pertence, não aparecendo como um ingênuo, e sim como uma pessoa generosa e sensata.

2. Deve existir uma forma de reciprocidade, pelo menos a meio-termo. Apenas um santo poderá dar sem jamais receber nada, certamente porque a alegria de dar dispensa-o de outras satisfações. A maior parte dos seres humanos comuns não pode ser permanentemente solidária em sentido único. É preciso que pelo menos a meio-termo e na média a solidariedade seja um bom cálculo, inscreva-se em um contrato social, em uma forma de reciprocidade.

3. A solidariedade não é sempre dada por antecipação; ela é obtida à custa de lutas individuais e sociais.

Essas três condições são suficientes para fazer compreender que a educação sozinha não pode fazer milagres. Entretanto, ela pode contribuir para o desenvolvimento da solidariedade favorecendo, à sua maneira, a realização das três condições que acabamos de evocar.

Organizarei minha proposta em função das três condições enumeradas acima.

 


Fundamentar a solidariedade como valor e princípio ético

Nenhum valor tem um fundamento totalmente objetivo. Não se pode "deduzir" a solidariedade da natureza, justificá-la inteiramente pela razão. O fundamento de um valor não se demonstra como um teorema de geometria.

Nem por isso os valores reduzem-se a "palpitações do coração" ou a sentimentos tão gerais quanto difusos. Eles se inserem em uma representação do mundo, em uma visão do sentido de existência, em uma filosofia, às vezes em uma religião.

Portanto, a escola pode contribuir em um duplo sentido para o desenvolvimento da solidariedade como valor:

1. Afirmando-a como tal, não abstratamente, mas através de exemplos extraídos da história humana, da atualidade, da literatura, como também através de práticas que realizam uma forma de solidariedade entre os alunos da classe, entre seus pais, entre os professores da escola ou ainda entre a escola e a comunidade próxima da qual ela faz parte.

2. Inscrevendo-a em uma cultura histórica, geográfica, jurídica, científica e literária que lhe confere sentido e fascínio.

A escola pública deve preservar ao mesmo tempo o pluralismo e o espírito crítico. Logo, ela não pode recorrer a uma teologia ou a uma filosofia particulares. O sistema educativo, em um país democrático, só pode professar o próprio ideal democrático e alguns outros valores suficientemente gerais para serem compatíveis com a diversidade das culturas, das crenças e das filosofias dos pais e dos alunos. Assim, não se pode inserir a solidariedade em um sistema de pensamento coerente, incorporá-la em um bloco no qual tudo se situaria a partir de algumas premissas.

É possível avaliar a que ponto é difícil a tarefa dos professores. O sistema educativo não pode, como uma igreja, apostar exclusivamente na prescrição, limitar-se a afirmar: "É preciso ser solidário!". Sua única saída é desenvolver a compreensão do mundo social, do meio ambiente, tentar levar alguém a se dizer "Como se pode não ser solidário quando se vê e se compreende o que se passa em nosso mundo?".

Não temos nenhuma ilusão: a adesão ao princípio de solidariedade no contexto escolar, mesmo que seja livremente consentida e decorra de uma reflexão, não garante que seja posta em prática nos contextos de ação. Cada um ficará tentado a salvaguardar antes de tudo seus interesses pessoais.

Tudo o que se pode esperar de uma firme adesão ao princípio de solidariedade, fundamentado em uma abordagem intelectual, saberes e raciocínios, é que ela seja um "contrapeso" à tentação de pensar apenas em si ou em seu grupo. Se cada um aceitasse colocar-se certas questões e considerar as implicações de seus atos para os outros e o conjunto da comunidade, certas decisões não-solidárias seriam mais difíceis de tomar. A educação pode desenvolver a lucidez e a descentração, alimentar uma forma de má consciência, fazer duvidar, fazer refletir, perturbar nossa tranqüilidade. A sensibilização para a ecologia ou o desperdício já produziram alguns efeitos nesse sentido.

Existem seres humanos cujo cinismo é a toda prova: eles podem - sabendo o que fazem, sem culpa, sem estados de alma - torturar, matar, explorar, difamar ou arruinar seus contemporâneos, poluir ou destruir a natureza, desencadear guerras ou perseguições. Para a maioria, nossos contemporâneos têm uma espécie de consciência moral, eles hesitam em agir mal com toda lucidez. Assim, em matéria de solidariedade, preferem não se colocar muitas questões, minimizar ou não precisar as conseqüências de seus atos.

Este é um dos desafios da educação escolar: reforçar a lucidez, proporcionar hábitos e ferramentas intelectuais que ajudem a compreender as implicações de nossa ação e seu significado no que se refere a grandes princípios, solidariedade, justiça, democracia, respeito às diferenças ou ao meio ambiente, por exemplo. Em síntese: pôr o dedo em nossas contradições, impedir-nos de professar grandes princípios com toda boa-fé, respeitando-os de forma flexível.

 


Compreender a solidariedade como base do contrato social

Pode-se apostar nos atores sociais &emdash; individuais ou coletivos &emdash; que, em nome da solidariedade, constantemente se voltariam contra seus próprios interesses. Por isso, importa que a solidariedade apareça também como "um bom cálculo", não apenas porque ela assegura a boa consciência, mas porque no final cada um encontra aí sua conta.

Nenhum ser humano pode viver sozinho, fora de qualquer comunidade. Pertencer a grupos sociais, da família à sociedade planetária, é um princípio não apenas de nossa sobrevivência material, mas também de nossa identidade, de nosso desenvolvimento intelectual, de nosso equilíbrio afetivo. Isto é verdade inclusive &emdash; e talvez sobretudo &emdash; em uma sociedade individualista.

O "contrato social", tal como Jean-Jacques Rousseau concebeu-o, é, em grande medida, um mito. Não há um "pacto" que preceda toda vida social. As microssolidariedades de base, familiares e tribais, não repousam sobre um contrato, nem mesmo tácito, mas sobre laços afetivos e trocas práticas. As crianças nascem e crescem em uma sociedade que já existe e sua única escolha é integrar-se a ela passivamente, excluir-se dela ou combater as instituições e as leis que consideram injustas ou absurdas.

Contudo, o mito do contrato ajuda-nos a esclarecer o papel da educação: levar cada um a compreender que faz parte de um conjunto e que não pode sair fora do jogo sem enfraquecer seus próprios interesses; incitar a conceber a solidariedade não apenas como um valor humanista, mas sobretudo como condição prática da sobrevivência de uma sociedade.

A demonstração é bastante fácil em casos particulares: não é necessário ir à escola para aprender que, para conseguir o que se quer, em certos momentos é preciso saber trabalhar em equipe, "ficar lado a lado", fazer acordos. Isto é verdade na família, no trabalho, nos negócios, no esporte. Aprende-se muito cedo que a solidariedade às vezes é um bom cálculo jogando futebol ou aliando-se a outras crianças para resistir à imposição dos adultos.

A educação não poderia ater-se a essas solidariedades locais, que freqüentemente se constroem contra o resto do mundo: a solidariedade entre os ricos é o adversário mais seguro da solidariedade de todos com todos.

Devemos admitir o fato de que nada é menos evidente que a necessidade de uma solidariedade de todos com todos para que o conjunto sobreviva. Isto é verdade em escala de planeta, de cada sociedade e mesmo de cada organização. Sendo assim, não basta, à maneira de uma "lição das coisas", dizer aos alunos: "Vejam o que se passa, vejam bem que cada um tem interesse em ser solidário". Eles olham e vêem que isso é falso, que muitos têm interesse em não ser solidários.

Reconheçamos: se observamos o que se passa em nosso planeta, tendemos mais a concluir que a solidariedade não vale a pena, que é um engana-bobo, que o que se vê hoje é o cada um por si. Os governos imperialistas e as ditaduras vão bem, as multinacionais também, assim como as indústrias que devastam o planeta e as máfias que vivem da prostituição, da droga, do tráfico de armas.

Em suma, o espetáculo do mundo é eloqüente: por toda parte, os poderosos e os ricos prosperam em detrimento dos dominados e dos desfavorecidos. Como um professor pode demonstrar a seus alunos que a sociedade é impossível sem solidariedade? A televisão mostra o contrário todos os dias. As sociedades e as organizações contemporâneas produzem a exclusão, a injustiça, o sofrimento, além de enormes desigualdades. Isto não provoca sua derrocada.

Para demonstrar que a solidariedade é um bom cálculo, é preciso provocar um reenquadramento radical dos problemas:

  1. Romper com a idéia de que o consumo e, por conseguinte, a produção de bens e serviços são as únicas coisas que contam na vida.
  2. Refletir em escala do planeta, da relação Norte-Sul, da população mundial, adotar a "identidade terrena" de que fala Edgar Morin.
  3. Pensar a longo prazo, levar em conta as gerações que ainda não nasceram, mas que sofrerão as conseqüências de nossas escolhas atuais.
  4. Inserir-se em uma visão ecológica, privilegiar o desenvolvimento duradouro, não separar a espécie humana dos outros componentes da natureza.
  5. Admitir que, para retomar a fórmula de Churchill, "a democracia é a pior das soluções, com exceção de todas as outras".

Mede-se o nível de cultura cívica, histórica, científica e jurídica exigido para colocar os problemas nesses termos. Nos sistemas educativos contemporâneos, aqueles que atingem esse nível são os privilegiados do sistema e, obviamente, os que têm menos interesse em mudá-lo. Este é um dos paradoxos: os que detêm os meios intelectuais de compreender que a solidariedade e a democracia são condições do desenvolvimento humano são também os que usufruem do status quo. Apenas alguns intelectuais defendem até o fim uma visão do mundo que limitaria seus próprios privilégios…

Como se vê, a educação para a cidadania e a solidariedade passa por uma imensa democratização da educação escolar, uma elevação do nível de informação e de reflexão de todos, quaisquer que sejam a profissão e a condição social em seu horizonte.

 


Aprender a lutar para ampliar a solidariedade

Seria ingênuo, na situação em que se encontram o nosso planeta e as relações sociais, acreditar que a solidariedade nascerá espontaneamente da compreensão coletiva. Se ela se desenvolver, será em favor de lutas por mais democracia, mais igualdade, mais respeito aos direitos humanos e às diferenças, etc.

Formar para a solidariedade é, portanto, formar indivíduos críticos, que querem e podem tornar-se atores, defender seus interesses, explicar e combater os mecanismos que engendram a violência, a miséria, a exclusão. Isto exige não só conhecimentos econômicos, jurídicos, tecnológicos, científicos, sociológicos, mas também competências de análise, de negociação, de coordenação, competências táticas e estratégicas.

Não falo aqui de um treinamento para a guerrilha, nem de uma formação técnica de militantes, sejam políticos, sindicais, ecológicos ou defensores dos direitos humanos. Falo de uma capacidade muito mais geral para analisar e fazer evoluir as relações de força nos grupos, nas organizações, nos sistemas sociais.

 


A educação para a solidariedade: uma utopia?

Minha proposta não era fazer um inventário detalhado dos conhecimentos e das competências necessários para inserir a solidariedade em uma visão do mundo. Insisto em um ponto: não se trata de criar uma nova disciplina, que chamaríamos de educação para a solidariedade, concedendo-lhe uma hora por semana na grade horária. Assim como a educação para a cidadania &emdash; da qual ela é próxima &emdash;, a educação para a solidariedade é questão de todas as disciplinas, de todos os professores, de todas as etapas de estudo, da escola materna &emdash; socialização, aprendizagem da cooperação, do respeito ao outro &emdash; à formação profissional.

Espero que algumas pistas esboçadas aqui demonstrem que o sistema educativo poderia, se lhe solicitássemos, desenvolver uma educação para a solidariedade suscetível de modificar as representações e as práticas de uma parte de nossos contemporâneos. O direito lhe seria concedido? A missão lhe seria atribuída? Voltamos aqui ao círculo vicioso já evocado: apenas uma sociedade que caminha para a solidariedade pode mobilizar seu sistema educativo nesse sentido.

Ninguém se oporá, naturalmente, a que "o sentido da solidariedade" inscreva-se entre os objetivos da educação de base. Daí a fazer dela uma prioridade, a traduzir esse objetivo no currículo, a encontrar tempos e meios, a formar os professores…

Aqui ainda há uma luta a ser travada. Ela se confrontará com obstáculos de dois tipos:

1. Uma parte dos ricos se oporá mais ou menos abertamente a que o sistema educativo proporcione a todos as ferramentas de análise e de ação suscetíveis de modificar as relações de força. Em todo o mundo, as classes dirigentes esperam da escola que ela reproduza a ordem social e perpetue sua dominação. Assim, combatem tanto a democratização dos estudos como a introdução no currículo de tudo o que poderia favorecer o pensamento crítico, a autonomia, a construção de atores coletivos.

2. Uma parte dos pais espera da escola, antes de mais nada, que ela prepare seus filhos para os estudos longos e a corrida aos diplomas. Para eles, o acúmulo de saberes para ter êxito nos concursos é mais importante que o desenvolvimento da cultura geral e da inteligência de todos. Em virtude disso, combatem ativamente as modificações curriculares que poderiam atrasar a progressão das elites e dar menos importância a uma competição escolar que eles não têm de temer, pois seus filhos sairão vencedores.

Não basta, portanto, afirmar o princípio de solidariedade, pensar que ele é unânime, delegar a responsabilidade à formação, depois voltar às suas ocupações… A discussão mais fecunda consiste em se perguntar: "O que fazer?". O que fazer para que, em cinco anos, em dez anos, em vinte anos, não se continue fixado nos mesmos sonhos, experimentando a mesma impotência. É isto que eu os incito a debater prioritariamente. Em nossa terra, em tempos de globalização, há muitas forças operando para impedir a solidariedade. Que aqueles que desejam desenvolvê-la não se esgotem em controvérsias menores, que não se batam entre si por palavras, e sim lutem juntos contra a ordem do mundo!

Uma última palavra: em muitos de meus livros, defendo uma orientação curricular no sentido das competências. Isto provoca dois tipos de críticas: o desenvolvimento de competências voltaria as costas ao desenvolvimento e submeteria os trabalhadores à lógica das empresas.

Espero ter mostrado, a propósito da solidariedade, que saberes e competências andam juntos, que as competências que reforçam a solidariedade &emdash; analisar, negociar, etc. &emdash; devem apoiar-se em saberes de alto nível em diversas disciplinas; que são necessárias tantas ou até mais competências para contestar a ordem do mundo do que para se adaptar a ela.

A verdadeira questão é: que competências a educação fundamental pretende dar a todos, para fazer o quê, para construir que tipo de sociedade?

 


Referências Bibliográficas

Morin, E. (2000) Les sept savoirs nécessaires à l'éducation du futur, Paris, Seuil.

OCDE (2001) Connaissances et compétences : des atouts pour la vie. Premiers résultats de PISA 2000, Paris, Organisation de développement et de coopération économiques.

Perrenoud, Ph. (1998) La transposition didactique à partir de pratiques : des savoirs aux compétences, Revue des sciences de l'éducation (Montréal), Vol. XXIV, n° 3, pp. 487-514.

Perrenoud, Ph. (2000) L'école saisie par les compétences, in Bosman, C., Gerard, F.-M. et Roegiers, X. (dir.) Quel avenir pour les compétences ?, Bruxelles. De Boeck, pp. 21-41.

Perrenoud, Ph. (2001 a) Fondements de l'éducation scolaire : enjeux de socialisation et de formation, in Gohier, Ch. et Laurin, S. (dir.) Entre culture, compétence et contenu : la formation fondamentale, un espace à redéfinir, Montréal, Éditions Logiques, 2001, pp. 55-84.

Perrenoud, Ph. (2001 b) The Key to Social Fields : Competencies of an Autonomous Actor, in Rychen, D. S. and Sagalnik, L. H. (dir.) Defining and Selecting Key Competencies, Gottingen, Hogrefe & Huber Publishers, p. 121-149 [2001_24].

Perrenoud, Ph. (2002) De qui la " culture générale " est-elle la culture ?, in Kuenzel, K. (dir.) Allgemeinbildung zwischen Postmoderne und Bürgergesellschaft. Internationales Jahrbuch der Erwachsenenbildung/International Yearbook of Adult Education, Vol. 30, Köln, Weimar, Wien, Böhlau Verlag, pp. 37 - 56.

Rychen, D. S. and Sagalnik, L. H. (dir.) (2001) Defining and Selecting Key Competencies, Gottingen, Hogrefe & Huber Publishers.

 

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